traz a pelescura
com a cor do café
essa vida duradesafia
c’o a fé
impressos na alma
- qual marcas d’água -
o ferro em brasa
e as chibatadas,
sufocados os ais,
o choro e o sangue
tododia derramados
desde seus ancestrais
negra é a tinta
na aquarela
a descolorir
seus subúrbios e favelas
de becos, cortiços, vielas:
quilombos da era moderna
seu tom escuríssimo
tece o sincretismo,
torna o improviso
bem mais colorido
o seu evangelho
não tem tom profético:
é um preto velho
e seus conselhos éticos
trago um preto velho
em meu sotaque étnico
o meu preto velho
aqui baixou, poético:
“sê bem-vindo
nessa cachanga,
suncê chegou
pra vencê demanda”
oi, salve, benedito!
e benditos sejam
os beneditos
de todas as cores
que se recusam
às rimas fáceis,
evitando amores
em seus versos hábeis
batuca com a mão
e dribla com o pé
gira, sai do chão
deixa zonzo o mané
simplesmente vivo
remanescente
preto forte, altivo
sobrevivente
às vezes fugitivo
para muitos, maldito
ou um qualquer
que atende por joão,
jorge, pedro ou josé
segue o seu instinto
mostra que é possível
abrir os caminhos
e ser imbatível,
bem mais que um “pelé”
do infame apelido
que oculta quem é
o irmão retinto
que tanto admiro
será o benedito?
texto: Andrepinheiro
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