Histórico
Associação Satélite-Prontidão
A Associação Satélite Prontidão enquanto patrimônio imaterial, a ser valorizada pelo trabalho centenário realizado se mantém como um espaço que abriga as idéias e os saberes desta etnia, de resistência cultural, de resgate de sua contribuição histórica e entretenimento das famílias da comunidade negra.
I - O surgimento da Associação
A atual Associação Satélite Prontidão surgiu de um processo que teve origem em 20 de abril de 1902, início do século vinte, passados quatorze anos da abolição da escravatura, quando algumas famílias da comunidade negra, unidas no propósito de construir uma sociedade que pudesse abrigar a cultura, as idéias e os costumes do provo negro, bem como fosse um espaço de lazer e entretenimento, fundaram a Sociedade Satélite Porto-Alegrense.
Além de recreativa, a entidade realizava atividades culturais e tinha como missão especial o preparo educacional da sua comunidade através de mutirões promovidos pelas senhoras da sociedade, no trabalho de alfabetização de alguns de seus sócios, seus filhos e crianças do entorno da sede social que ficava na Cidade Baixa.
Os membros da entidade contavam ainda com um sistema de pecúlio para auxilio pessoal e funerário, e com ações cooperativas para custeio de tratamento médico e odontológico dos sócios. Os acontecimentos sociais da Satélite mereceram citação no livro “O Teatro São Pedro na Vida Cultural do Rio Grande do Sul” de Athos Damasceno. Mas os documentos históricos deste período foram perdidos na grande enchente ocorrida em Porto Alegre em 1941, e assim o que se sabe desse período foi através de tradição oral.
II - O grupo Carnavalesco Prontidão
Em 1925, surgiu outra sociedade chamada de Grupo Carnavalesco Prontidão, fundada por José de Oliveira Lomando, funcionário da Viação Férrea (Estrada), Oscar Martins, funcionário do Banco do Brasil, Antônio Hermínio de Oliveira e Aderbal Braz, ambos funcionário dos Correios e Telégrafos. Também constam dos registros como fundadores os nomes de Darcy Rio Branco e Ely A. Rodrigues.
O mesmo trabalho exercido na primeira sociedade teve continuidade no Prontidão, educação, cultura e assistência social, destacando-se o trabalho de alfabetização de jovens, adultos e crianças. Sendo que em 1950, o Prontidão alterou o nome para Sociedade Recreativa e Beneficente Prontidão.
Com o surgimento da nova Sociedade, o Satélite Porto-alegrense foi diminuindo suas atividades, até quase a paralisação. O Prontidão, no entanto, depois de passar por outras sedes, se instalou em um prédio na Rua Barão do Gravataí, nº. 645.
Esta sede era de propriedade de um dos sócios, o Sr. Eliseu Brasil Marques, e foi alugada com a condição de que o imóvel seria comprado pela sociedade, o que terminou por não se concretizar, em razão da impossibilidade de negociar com a Caixa Econômica Federal. Por questões particulares o Sr. Eliseu foi obrigado a pedir o prédio para colocá-lo a venda e como a Sociedade Prontidão não tinha condições de resolver a situação, foi sugerida uma alternativa que envolveria a sociedade mãe, no caso, a Satélite Porto-Alegrense.
A solução encontrada estava na venda de um terreno adquirido pela Sociedade Satélite, na Rua Olavo Bilac, no bairro Cidade Baixa. O Sr. Flávio Corrêa, lembrou de sua existência e depois de muito trabalho, foi recuperada a escritura do imóvel, que negociado oportunizou a aquisição do imóvel na Rua Coronel Aparício Borges, nº. 288.
III - A fusão das Entidades e o nascimento da Associação Satélite Prontidão
No dia 1° de maio de 1956, na residência do Senhor João Costa, na Rua Cabral n° 438, às 10 horas, reuniram-se os dirigentes da Sociedade Satélite Porto Alegrense. Presentes os Senhores Flavio Fortunato Corrêa, presidente honorário, José Luiz Machado, também conhecido como "Zé Balaca", presidente em exercício, Homero Alves dos Santos, vice-presidente e presidente da Comissão Construtora, Mário Vasconcelos Mendes, tesoureiro, João Costa, porta-estandarte e a Senhora Stella Carvalho Costa, secretária da reunião, que tinha como finalidade, tratar da fusão da Sociedade Satélite Porto-Alegrense e a Sociedade Recreativa e Beneficente Prontidão, em data que seria
futuramente acordada.
Nova reunião foi realizada no dia 29 de maio do mesmo ano, na sede da Sociedade Beneficente União Operária 13 de janeiro, Rua Cabral, n° 63, com o propósito de consolidar a idéia da união das duas sociedades e também da formação de uma comissão para a execução da tarefa, junto com a sociedade Prontidão.
Participaram desta decisão, alem daqueles que fizeram parte da primeira reunião mais os Senhores Cecílio Arnaldo da Silva, Darcy Antônio da Silva, bem como a Senhora Diná C. Mendes. A Comissão para tratar da união das mencionadas entidades ficou assim constituída: Euclides H. de Castro, José Luiz Machado, Ubirajara C. Oliveira, Homero Alves dos Santos, Djalma Rio Branco, Darcy Antônio da Silva, Flavio Fortunato Corrêa, Mario Vasconcelos Mendes, João Costa, Unigênito C. Fernandes e Nelson Franco Brisolara.
Do lado da Sociedade Recreativa e Beneficente Prontidão, que tinha na sua Presidência o Senhor Cincinato de Oliveira Filho foram muitos os que participaram do processo de fusão das duas sociedades e entre eles, podemos destacar personalidades importantes como, José de Oliveira Lomando, um dos seus fundadores, Everaldo Henrique de Castro, Odilon Batista Carvalho, Clemente Gonçalves de Oliveira, João Pedro dos Santos, Pedro Nunes, e muitos outros.
A fusão das duas entidades transformou os nomes originais para Associação Satélite-Prontidão. Importante registrar que esta transação somente pode ser realizada mediante o aval de sócios importantes como, o Vereador Vilton de Araújo e Helton Soares de Lima, ambos já falecidos e a interferência e intermediação de Alceu de Deus Collares.
Junto com a solicitação de registro da nova Sociedade foi encaminhada a nominata da sua primeira Diretoria, que tinha a seguinte constituição: Presidente. Everaldo Henrique de Castro, Vice-Presidente, Odilon Batista Carvalho, 1° Secretário, Odilon Brasil de Andrade, 2° Secretário, Gaspar Martins, 1°Tesoureiro, João Costa, 2° Tesoureiro, Athayde Nascimento Vieira, e Orador, João Pedro dos Santos. O Conselho Fiscal ficou com a seguinte formação: Clemente Gonçalves de Oliveira, João Antunes dos Santos, Theodoro Silva, Miguel Machado, Flavio Fortunato Corrêa, Antônio Rosa Santos, Mario Vasconcelos Mendes e Ewaldo Santos.
De acordo com documentos oficiais, os componentes desta 1ª Diretoria e Conselho, são considerados sócios fundadores. Desde a fundação da primeira das entidades fusionadas, figuras proeminentes da política do Rio-Grande do Sul fizeram parte dos seus quadros sociais como, por exemplo, os saudosos, Dep. Carlos da Silva Santos, e os Vereadores, Viton de Araújo e Ennio Terra. O Deputado Federal Alceu de Deus Collares, e o Vereador. Wilton Pinto de Araújo, sócios que muito contribuíram e ainda hoje ajudam no desenvolvimento desta Sociedade.
IV - Do trabalho desenvolvido
A Associação Satélite-Prontidão manteve as atividades da área social, onde sempre despontaram as festas de grandes públicos como os famosos bailes do chope, as festas juninas, os bailes de carnaval e os bailes de aniversários da entidade que, antigamente reverenciava a data da fusão, ou seja, o dia 30 de setembro, como sendo a mais importante do calendário social.
Alguns grupos mantiveram atividades dentro da Sociedade como o Grupo Folia que depois se transformaria no Clube do Chá. O Trevo de Ouro teve seu inicio na empolgação de um grupo de jovens sócios ou freqüentadores do Prontidão, com a formação de poucos componentes apenas para as festas de salão. Tempos depois, se transformaria no Grupo Carnavalesco Trevos de Ouro, com brilhante participação no carnaval de Porto Alegre.
A fusão em 1956 não diminuiu o interesse e a dedicação pelas questões relativas a educação, a cultura e a assistência social, quase cultuadas no passado - pelo contrario - incorporaram-se a estas atividades outras, inclusive de caráter filantrópico mantendo-se a mesma filosofia de trabalho adotado pelas antigas sociedades.
Esta prática pode ser verificada pelos registros em documentos de várias épocas, onde se percebe as transformações ocorridas especialmente no campo da educação. Os Estatutos são provas evidentes que estas modificações ocorreram na medida em que a comunidade se desenvolvia, ou seja, os mais antigos determinavam a criação de cursos de alfabetização, os posteriores a manutenção de cursos noturnos de alfabetização e 1° grau e os atuais recomendam cursos de Pré-Vestibulares e outros projetos pertinentes. Outra exigência estatutária era a manutenção de uma biblioteca como apoio aos cursos, suporte e fonte de pesquisas para os alunos.
Na nova sede também o esporte passou a ter o seu espaço, destacando-se como uma nova alternativa, conquistando a adesão dos jovens e propiciando a dinamização de outros setores. Víamos aí, o esporte como movimento integrador e de transformação social.
Em 1991, na gestão do Presidente Nilo AIberto Feijó, o Artista Plástico Américo de Souza viria consagrar, de forma inquestionável o Prêmio Zumbi, com a criação de uma estatueta construída para simbolizar a figura libertária do herói palmarino. Essa outorga encontra-se hoje, na sua 15ª edição e já foram laureadas, personalidades como, Antônio Carlos Cortes, Oliveira Silveira, Maria Verônica da Silva Santos (Tia Lili), Walter Calixto Ferreira (Borel), Tia Laura da Comunidade Nazaré, Emani Machado, Ennio Terra, Maria Helena Vargas da Silveira, José Anerom Fagundes Gomes, Stella Canralho Costa, Maria da Graça Gomes Paiva, Geraldina da Silva e Marisa Souza da Silva, o Senador da república, Paulo Renato Paím, Dayane dos Santos e Rozeli da Silva e Marilene Pare.
O Troféu Zumbi é a concepção de um guerreiro cuja cabeça - grande e brilhante - representa a força física e espiritual do negro. No rosto - traços marcantes da nossa negritude. No olhar - a esperança de uma raça que ainda espera conquistar o seu espaço. No peito, do guerreiro, a resistência da raça negra que não fraqueja diante das dificuldades, e finalmente os pés - retratando a firmeza, o apego e amor à terra de onde tiramos o nosso sustente.